Altamira 2042 é uma instalação performativa criada a partir do testemunho do rio Xingu na barragem de Belo Monte. Aqui todos falam por meio do mesmo dispositivo tecno-chamânico: alto-falantes e pen drives. Cada alto-falante carrega uma voz, humana e não-humana, que é ouvida nas margens do rio Xingu. Uma polifonia de seres, línguas, sons e perspectivas toma conta do espaço para se abrir ao público, ouvindo vozes que tantos tentam silenciar.
Entre 2016 e 2019, ouvimos o depoimento do rio Xingu sobre a catástrofe causada pela usina hidrelétrica de Belo Monte. Essa escuta deu origem ao espetáculo Altamira 2042. O espetáculo estreou em 2019 na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo - MITsp, e já foi apresentado em diversas cidades do Brasil e do mundo, incluindo a cidade de Altamira, no Pará, Rio de Janeiro, Paris, Viena, Hamburgo, Porto, Lisboa, Nova York, entre outras.
É a partir desses sons, cantos e também de imagens que a performer Gabriela Carneiro da Cunha articula, junto com o público, os diferentes momentos da obra: a abertura Rio e Rua, seguida de Dona Herondina, Seu Quebra Barragem e Aliendígena, onde a performer se veste e apresenta as diferentes perspectivas desses três seres maquínico-espirituais que protegem as águas e as florestas e que tomam a palavra para mitificar a História. Assim, a usina de Belo Monte deixa de ser apenas um canteiro de obras e passa a ser o mito do inimigo.
O rio Tapajós é o lar do importante e resistente povo indígena Munduruku. O povo Munduruku ainda não tem suas terras demarcadas e oficialmente reconhecidas pelo Estado brasileiro. Nas últimas décadas, os Munduruku e algumas de suas mulheres líderes, como Alessandra Korap e Maria Leusa Munduruku, surgiram como vozes principais de resistência à mineração ilegal e à contaminação do rio, de seus corpos e de seus filhos por mercúrio. Uma das imagens que nos guiará é o encontro das águas que ocorre entre o Rio Tapajós e o Rio Amazonas, às margens da cidade de Santarém, no Estado do Pará, onde ambos os rios seguem um ao outro por centenas de quilômetros lado a lado sem misturar suas águas. Dois são um, e um é dois. Esse lugar é conhecido por seus poderes mágicos. Para nós, é a imagem de um encontro real, um contraponto ao encontro colonial que devastou e exterminou inúmeras populações humanas e não humanas. Uma imagem que ainda não foi revelada.
A expressão cultural dessa imagem no Tapajós é chamada de Festival do Sairé, uma das mais importantes e antigas celebrações da região amazônica. Uma cerimônia religiosa pagã em que as culturas católica e indígena se encontram e fazem, em suas palavras, "uma ligação entre o mundo real e o espiritual". A pesquisa realizada pela artista Gabriela Carneiro da Cunha terá continuidade nesta terceira etapa, ampliando e aprofundando uma linguagem artística interessada em ouvir e materializar os testemunhos dos rios amazônicos, e também em aprofundar a relação entre ritual e performance, e o compromisso público.
Esse espetáculo é coproduzido pelo Théatre Vidy-Lausanne e teve sua fase de pesquisa e desenvolvimento apoiada pelo MIF (Manchester International Festival).
Tapajós
sobre Rios, Buiúnas e Vagalumes é um projeto de pesquisa artística dedicado, desde 2013, a ouvir e amplificar o testemunho de rios brasileiros que vivem uma experiência de catástrofe, a partir da perspectiva do próprio rio. Essa pesquisa foi concebida como uma resposta ao conceito de "Antropoceno", explicado por Eliane Brum como "o momento em que o homem deixa de temer a catástrofe e passa a ser a própria catástrofe".
Dentro desses processos, surgem três frentes, três vozes a serem ouvidas: os Rios Testemunhas, as Mulheres Buiúna e os Povos Vaga-lumes.
Os Rios Testemunhas são aqueles que vivem uma experiência que pode ser chamada de catastrófica, do ponto de vista dos rios e dos muitos seres que dependem deles, humanos e não humanos; as mulheres Buiúna são nós e eles. Mulheres artistas das margens e mulheres das margens, mulheres líderes que trazem em seu imaginário político-poético a mistura de diferentes espaços-tempos, e o potencial que surge quando eles se juntam; os povos vagalumes são todos aqueles expostos ao desaparecimento, humanos e não humanos (Didi-Hubermann, 2011).
Até agora, ouvimos três rios amazônicos: Araguaia, Xingu e Tapajós, cada rio exigindo um tipo diferente de escuta. Essa escuta gerou performances, peças teatrais, filmes, artigos em revistas e livros, oficinas, uma rede entre mulheres, rios e arte, a aquisição de uma terra em Altamira/PA - que servirá para adubar mudas e ideias - e agora este Jogo de Tarô onde revelamos em cada carta o mundo em que estamos imersas.
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